quarta-feira, 23 de maio de 2018

Três versões do Narcisismo das Pequenas Diferenças

Conversamos com Luiz Moreno Guimarães Reino (Pesquisador em Psicanálise, Psicólogo e graduando em Letras Clássicas) e Paulo César Endo (Psicanalista e Professor Doutor do Instituto de Psicologia da USP) que se debruçaram sobre o tema e desenvolveram o texto "Três Versões do Narcisismo das Pequenas Diferenças", o qual dividiram conosco.


Da diferença sexual à pequena diferença
Comecemos pela forma privilegiada do início de análise, isto é, com um inquietante estranhamento ali, onde em geral existe um consenso. Pensemos nos termos que compõem a expressão narcisismo das pequenas diferenças; "vamos adotar uma atitude ingênua diante dela, como se a ouvíssemos pela primeira vez" (FREUD, 1930/2010, p. 73).

Estranha composição, o narcisismo das pequenas diferenças parece ser uma construção antitética. Freud (1910/2006) dava grande valor aos estudos linguísticos de Abel (1884) sobre o léxico egípcio, os quais consideravam que as palavras primitivas tinham uma origem antitética. Ou seja, na origem, havia antíteses, uma palavra tinha dois significados contrapostos ou a própria palavra trazia a marca dessa oposição. Por exemplo, no caso mais impressionante, em que colocavam lado a lado termos contrários - como velhojovem, unirseparar, foradentro -, reunindo assim em sua composição os opostos entre si, apesar de, semanticamente, só focar um dos termos. Freud já havia chegado a algo semelhante ao estudar os sonhos que "unem os opostos em uma unidade ou os figura em idêntico elemento" (1900 citado pelo próprio Freud, 1910/2006, p. 147). A princípio, o narcisismo das pequenas diferenças parece guardar certa semelhança com esse tipo de construção antitética (ou onírica), pois junta em uma mesma expressão termos opostos: narcisismo e diferença.


Há aqui, no entanto, um risco, pois, ao opor narcisismo e diferença, não se trata de repetir ad nauseam os clichêsviva a diferença, do respeito ao próximo (todas variações comerciais do mandamento religioso amar o próximo como a ti mesmo), tão comuns hoje em dia; este fenômeno denominado de "multiculturalismo" (ZIZEK, 2008) é um efeito de massa no qual a condição para que a diferença do outro seja reconhecida é a de que ela perca sua alteridade. Não se trata disso. Na verdade, a aceitação imediata da alteridade é metapsicologicamente impossível. Há uma série de obstáculos que se opõem ao reconhecimento do outro. Nesse sentido e antes, a questão que devemos responder é por que a alteridade é vivida como uma ameaça? E uma resposta possível está nessa oposição entre narcisismo e diferença. 


Continue lendo: clique AQUI

Nenhum comentário:

Postar um comentário