segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Tempo de concluir...


Antes que o ano finde, uma pausa para dividir a forma como nosso trabalho com o Tema Institucional foi encerrado neste dia 29 de setembro. 

Registramos um pouco de como partilhamos nossos últimos momentos juntos nas Jornadas, mas sobretudo, registramos que esse trabalho de escuta, abertura e interlocuções segue. Então, estão todos convidados a seguirem conosco!


Das Interlocuções possíveis e abertas


Nossa proposta de interlocução começou entre as quatro paredes da Instituição, mas de lá seguiu: batemos nas portas para sermos recebidos, pedimos licença para sermos escutados e sobretudo, pedimos que nos deixassem escutar (trabalhos, propostas, percursos...) 

Muito disso já ficou compartilhado neste blog construído para as jornadas: passeamos pela história com Nicolina de Petta, saboreamos arte, utopias e possibilidades com Edson Luiz de Sousa, Ana Luisa Kaminski, Gabriel Bueno... assistimos à fala de colegas como Claudemir Flores... e, desse recorte que faço em agradecimento à generosidade dos colegas que se propuseram a trabalhar conosco mesmo de longe, divido com vocês o tanto que quisemos ouvir – desejo ratificado na apresentação dos trabalhos que seguiram daqui até as Jornadas Abertas. 

E é desse desejo de trabalho que me propus a falar ao encerrar os trabalhos das Jornadas em 29 de setembro. Colette Soler, quando pergunta “o que faz laço?” marca o quanto é fascinante um encontro: em que se propõe um tempo e  um lugar e tantos corpos transportam-se para aí nesse dia, imantados por algo. 

Ouso elencar alguns dos nossos “imãs”, alguns pontos que acredito terem nos capturado e começo marcando algo nada novo: o compromisso de seguirmos atentos à escuta da nossa época como fundamental ao exercício da psicanálise. Estivemos reunidos, primeiro, atentos a isso. Mas também acredito em nossa inquietação do nosso lugar de analistas e na proposta de escutar mais. Anuncio o que já foi marcado diversas vezes e de formas diversas nessas jornadas: nossa ética em seguirmos nos questionando, nos escutando e escutando nosso entorno. E por último (não que sejam só esses nossos enlaces), marco nossa fundamental castração. Porque a partir do lugar de não saber, nos colocamos a nos questionar e produzir. Em nome da psicanálise e do desejo do analista, trabalhamos até aqui. 

O desejo do analista - isso que acredito ser um dos pontos de chegada de uma análise, é também o ponto de partida para que se fomente interlocuções como esta que fizemos juntos, para que se compartilhe trabalhos e se abra questões. 

Também é o desejo do analista que pode permitir que se presentifique a psicanálise no mundo  e, esta proposta de Lacan foi também a que ouvimos por tantas vezes nessas jornadas e que já foi anunciada por Freud lá atrás em registros de suas aspirações como em  “Linhas de progresso na terapia psicanalítica”. 

Tivemos a oportunidade de ouvir colegas em seus trabalhos e escutas singulares, e fomos convidados por cada um, de uma forma particular, a não silenciar. Ouvimos de Betty Fuks sobre o quanto pode ser trágica a consequência do silêncio; e, outros colegas, ao falarem, elaboraram e nos fizeram elaborar tragédias da vida, de nossos tempos.

Estas jornadas foram um exercício de não silenciar. 

E a partir desse exercício de escutar e falar, e depois de tanto nos debruçarmos sobre as relações de ódio e hostilidade, tão importantes e presentificadas em nossos tempos, convido à questão do amor: não como oposição ao ódio, mas aquele que permite o início da análise e do qual se abre mão para sustentar o lugar de analista. 

Eis o que se faz então ao sustentar nossa práxis, e também nosso trabalho na Instituição e nosso olhar para além dos muros. 

Ao enunciar que a autorização do analista se dá por si mesmo e por alguns outros, Lacan anunciou o trabalho com os pares, mas junto com isso também se instalou o discurso velado da desautorização. E sustentar o trabalho psicanalítico sem se esconder entre muros, é desafiador por muitas vias. 

Daí, mais uma vez, a importância de trabalhos como esse sobre o qual nos debruçamos e enlaçamos. E o lugar tão importante de um discurso que não se repete esterilmente em torno da questão “isto é psicanálise ou isto não é psicanálise”, mas se articula de modo produtivo sobre os desafios de se seguir repensando o lugar de analista.  

Pedro Heliodoro nos provocou a estarmos em paz com o próprio “daimon”, abdicando da demonização do outro em suas pequenas diferenças como um possível fim de análise.

E se o percurso da análise caminha para a invenção do amor para além do narcisismo, o amor que não é ao próximo, mas que se fundamenta no princípio da diferença, eis que devemos falar sobre ele. 

Nossas jornadas nos oportunizaram o testemunho de trabalhos singulares, a escuta do plural, o compromisso ético contra a hegemonia, o estranhamento, a inquietação ... e dos muros erguidos a serviço da segregação e estigmatização, propôs produção. Se até então, diante do diferente, marcavam-se  distâncias, construímos a questão do muro. Em nossas Jornadas, ele não! O muro lá, em arte foi desfeito. 

Esse percurso foi possível a partir da sustentação do desejo de muitos. Nomeio primeiramente Jeanine Fialho, que enquanto Presidenta da Instituição pagou os preços da abertura, e com sua marca de trabalho muito objetiva, não titubeou em retornar a cada vez com o seu habitual “seguimos”. O cuidadoso percurso teórico feito por Tania Mascarello que coordenou o Tema Institucional e não deixou que nos desviássemos do que Freud propôs. Cléia Canatto que presentifica o valor da escuta nos cortes, na ética, na estética e no afeto com que faz seus laços de trabalho. 

Agradeço aos colegas da Maiêutica Florianópolis Instituição Psicanalítica, o lugar de coordenar estas Jornadas, que se inscrevem pra mim como um ato e me brindam com a escuta sobre este tema que me captura. 

Agradeço às colegas da Comissão Organizadora: Luana, Bruna e Amanda. E aos colegas que neste percurso tornaram-se nossa Comissão de apoio: Roberta, Márcio, Antonio, Deise, Eduardo, Lucas, Terezinha, Alessandra e Aline. Nos bastidores, e a partir de uma transferência que não é nova em minha caminhada, contei com a presença implicada e de singular parceria de Marcela de Andrade Gomes, que me proporcionou escutas diversas e a quem nesse momento formalmente agradeço. 

A presença de cada colega que trabalhou e dividiu conosco seu percurso teve um lugar especial para que fosse possível ouvir mais, produzir além. Agradeço a cada um, e, especialmente, aos conferencistas que inscreveram o novo, a abertura e os laços: Betty Fuks, Miriam Debieux e Oscar Miguelez. E ainda, agradeço aos nossos convidados que não fazem parte de nossa Instituição, mas vieram participar de nossas mesas com apresentações de trabalho: Ana Augusta Brito, Marilena Deschamps e Pedro Heliodoro Tavares.

Nesse tempo de trabalho, muitas vezes falamos da inscrição no corpo, no Real, na carne. E foi experimentando um pouco disso que nos atravessa, que prestigiamos o trabalho “O narcisismo das pequenas diferenças” do dispositivo Psicanálise e Arte, como atividade que encerrou nosso evento, mas que poderia ser considerado em si, um evento à parte, tamanho o alcance e as marcas que produziu. 

E é com o registro dessa performance, que encerramos as postagens do Blog Jornadas 2018:
Joana Felício, pedagoga, pós graduada em Surf e SurfBoard, Atriz e com percurso de teatro, cinema, tv local e nacional; idealizadora e responsável pelo Vlog Energia Vital, foi quem fez a filmagem e edição desse espetáculo. 
O Vlog é uma ferramenta de divulgação de entretenimentos de forma geral, através dele, Joana busca mostrar um pouco do que acontece na Ilha da Magia, no Brasil e no mundo. Cultura, arte, esporte, beleza, saúde... abordagens com um olhar dinâmico e descontraído.  
Com esse dinamismo e interesse pelo que é belo, ela nos ofereceu seu olhar e sua disponibilidade que resultaram nesse fragmento que podemos dividir com vocês.  
Agradecidos pelo trabalho especial com que nos presenteou, convidamos todos a acessarem e se tornarem apreciadores dessa rede que Joana sustenta. #vlogenergiavital - acesse no Instagram, Youtube e Facebook. 






Por Tahiana Brittes
Coordenadora das Jornadas 2018