Em nosso percurso de estudos do tema Institucional, passamos por um dos textos de Freud "Sobre o Narcisismo: uma introdução".
Nele, Freud escreveu um dos mais belos e importantes comentários sobre a constituição do sujeito, apontando que a criança
representa para seus pais, assim como para ela mesma, uma aposta narcísica.
(Tela de Arthur Drummond "Sua Majestade o Bebê")
“O narcisismo primário das crianças por nós
pressuposto e que forma um dos postulados de nossas teorias da libido é menos
fácil de apreender pela observação direta do que de confirmar por alguma outra
inferência. Se prestarmos atenção à atitude dos pais afetuosos para com os
filhos, temos de reconhecer que ela é uma revivescência e reprodução de seu
próprio narcisismo, que de há muito abandonaram. O indicador digno de confiança
constituído pela supervalorização, que já reconhecemos como um estigma narcisista
no caso da escolha objetal , domina, como todos nós sabemos, sua atitude emocional.
Assim eles se acham sob a compulsão de atribuir todas as perfeições ao filho –
o que uma observação sóbria não permitira – e de ocultar e esquecer todas as
deficiências dele. (Incidentalmente, a negação da sexualidade nas crianças está
relacionada a isso.) Além disso, sentem-se inclinados a suspender, em favor da
criança, o funcionamento de todas as aquisições culturais que seu próprio
narcisismo foi forçado a respeitar, e a renovar em nome dela as reivindicações
e aos privilégios de há muito por eles próprios abandonados. A criança terá
mais divertimentos que seus pais; ela não ficará sujeita às necessidades que eles
reconheceram como supremas na vida. A doença, a morte, a renúncia ao prazer,
restrições à sua vontade própria não a atingirão; as as leis da natureza e da sociedade
serão ab-rogadas em seu favor; ela será mais uma vez realmente o centro e o
âmago da criação – “Sua Majestade o bebê”, como outrora nós mesmos nos
imaginávamos. A criança concretizará os sonhos dourados que os pais jamais
realizaram – o menino se tornará um grande homem e um herói em lugar do pai, e
a menina se casará com um príncipe como compensação para sua mãe. No ponto mais
sensível do Sistema narcisista, a imortalidade do ego, tão oprimida pela
realidade, a segurança é alcançada por meio do refúgio na criança. O amor dos
pais, tão comovedor e no fundo tão infantile, nada mais é senão o narcisismo
dos pais renascido, o qual, transformado em amor objetal, inequivocamente
revela sua natureza anterior”. (Freud [1914], 2006, P.87)
Por Jeanine Fialho
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